Significamando.

As palavras não ditas me sufocam. Sinto uma vontade incontrolável de dizê-las. Mas quais? Estão difusas, confusas, ainda sem tradução. Ainda não deixaram de serem sentimentos, é preciso refino para codificá-los nas palavras corretas. Sentimento é a gênese dos textos, e minha página ainda está em branco.  Está também porque cansei de preenchê-la com citações. Basta de interferências, esse é meu parágrafo, e se preciso for vou apagá-lo e reescrevê-lo quantas vezes os sentimentos pedirem.  Sim, eles pedem pra se materializarem em linhas, é preciso apenas saber como traduzi-los. É o que me falta nesse instante. Estou cheia de palavras ainda sem tradução. Uma pena já possuírem tanto significado a ponto de me sufocarem pedindo voz. Pedem sílabas, linhas, parágrafos, mas no fim o que querem mesmo é voz. Querem penetrar nos ouvintes, querem transfigurar-se em novos significados e tão logo em outros sentimentos no interior de quem as recebeu. Da página ao coração. Não, do coração à página, e da página a outro coração, afinal, o que se é dito tem sempre um destino. E por isso estou sufocada por minhas palavras. Elas querem te atingir. Querem significar em você. Querem seu sentido, seus sentimentos, e para isso minha página precisa deixar de estar em branco. É hora de escrever meu texto e parar de assistir ao que as citações te causam. Isso não me livra do que está preso aqui. É hora de transformar minha morfologia em sintaxe e romper com sua ordem. É hora de meu texto significar em você. Preciso apenas de sua ajuda. Preciso que pare de me causar sentimentos tão difíceis de serem traduzidos. Estão todos aqui, presos sem poderem ser ditos, pois não consigo decodificá-los. Pare com isso, leitor. Assim você torna mais difícil preencher minha página. Assim minhas palavras nunca chegarão a ser poesia. Como rimar o que ainda não achei formas de traduzir? Será que o que sinto rima com você? Me ajude, leitor. As palavras permanecem me sufocando, querem voz. Busco formas de significar esses sentimentos todos tão confusos. Temo seguir com a página em branco.

Vem, vamos escrever juntos. Vamos unir os parágrafos e sermos um texto, unidade. Nosso tema é o mesmo. Do coração à página, da página a outro coração. Nossa página irá pulsar duas vezes. Toda essa metalinguagem não me abrange... Minhas palavras ainda estão aqui, leitor. Onde estão suas palavras a rimar com as minhas? Venha significar-me. Sigamos significamando. 

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