Hamornia

E pra ser eu, peguei as palavras atrizes e as palavras repórteres, e as espalhei sobre a mesa, que nem na aula do primeiro período. E fui rindo criança, tranquilo, caçando quais deviam fazer um poema. Tava com sede de verso. De banhar umas duas sensações ou pensações em poesia e pendurá-las depois em algum galho da árvore. Só pra sentirem o vento. Tenho a impressão de vê-las sorrindo ali no balanço ventoso de sob a goiabeira. E me alivio junto delas. Sinto os pés mais leves, o coração mais calmo, e os olhos descansam. Parece que ali, penduradas, Deus pode ler as rimas. Nos meus olhos fechados, adivinho se Ele gostou ou não do que leu. Nunca sei. Na verdade nunca importa, sei só que ele sempre venta mais forte ainda. E vai tudo embora. O eu frágil, o fácil, o fóssil. Sobro carcaça de mais-que-sorrisos e asas de folhas de livro. Paz tanta que minha preocupação maior é pensar por que inventaram errado a palavra "harmonia", sem lhe deixar caber "amor" no meio. Mas sem tempo de achar ruim, declaro: foi erro de digitação.