Almar

Que a gente fale, que a gente se fale, se esfole. Retalho por detalhe, me conta. Ouço vozes e sarcasmos, mas finjo que é a trilha sonora do meu caminho. Caminho de nuvem, pedra e chuva. Amor, muro e mar. Pavor, puro, amar. Sabor, turvo, chorar. Aqui tudo é tão intenso, tudo tão tenso, sedento, detento, redento. Entende? No fundo é diferente, lá tudo flui da mesma forma. E essa dualidade às vezes machuca. É tudo tão bom, e tão ruim; tão só, e tão seu. Tampouco as amoras são constantes. Inocentes, frágeis pedaços de tempo. Despedaçáveis. Sem desesperos. Só inspiram. Sabores doces e indóceis dissabores. Silêncios em dissonância. Receios ressoantes, revoltantes. Irrelevantes. A amora se desfez, mas marcou seu pedaço de tempo, antes que a amargasse o medo, o ruim e o “só”. Por isso talvez o dois, os dois lados, os dois rios. A solidão desfeita pela raiz, a divisão, os retalhos, a multiplicação de egos, a consciência eterna confidência. De experiência, indecência, preferência. Prefiro assim. Não, nem prefiro nem interfiro. É isso. Atávico, imutável. Mas nas batalhas persuasivas dói o peso da decisão. A madame consciência fala, grita, chora e sabe. Eu calo. Ouço, rio, choro e digo que sei. No fim, deito e durmo enquanto chora baixinho lá dentro a sabedoria. A euforia, a aporia, a histeria, cada qual em seu canto, guardadas. E o vazio dos sonhos é a greve da alma. Esvaziada, enfraquecida, esquecida. Diluída, ela clama, chama, trama. Ama. Mas não parece um pesadelo! A manhã acorda, e quem não se recordou fui eu. É o arrependimento da outra lá dentro. Que crê, se ilude. Crê. Desilude. É primitivo, o racional mais consciente de todos. Apaga tudo. Afaga, paga, alaga de tudo novo de novo. E vai nisso, não sei se amora ou namora. Tipo a alma.

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