Rosas

Eis que pendem da alma lábios em sorriso. Olhares nos abrem o leque de sentimentos, e então encharcar-se em choro ou admirar amores torna-se questão de escolha. Colher o que plantou, nem sempre ousamos ser assim. Ficamos sentados de frente aos ramos verdes, vemos as flores crescerem, ou as folhas florescerem, e esperamos tudo murchar. Pousamos a cabeça sobre os punhos e regamos com lágrimas quem já não precisa ser regado. Descarregamos depois em novas poças lamentos vãos. Faltou rasgar-lhe o ramo e o fazer presente. Fazer dele um presente. Àquela outra flor que estende sua estação na esperança de se ver colhida. Acolhida. Pelo relutante egoísta que prefere murchar sozinho que acariciar as pétalas. Triste é ser silente a rosa, que sabe das coisas, mas nada diz. Ela chora, disfarçando de orvalho suas lágrimas, e só aponta seus espinhos quando lhe é urgente. E uns não são tão em vão assim. Quando escorre aquele fio d'água vermelha, é o coração que marca, arca, embarca. Assume em suas batidas as certezas que se lhe confiam, mas falha. Fala por dores o que deve ser feito, e se não convence, dá um nó tão apertado que é a alma quem pede socorro. Sufoco. E um pedacinho dela se sacrifica cada vez que a (in)consciência acalma o coração, quando haveria de ser o contrário, ora. Não demora para a alma dar um abraço no coração. Não um abraço apertado, porque lhes faltam força, mas um abraço. A indignação dos dois é inócua, meros sentimentos custam a se afirmar vitoriosos. Mas então a maldita subconsciência vem em piedade, quando a arritmia já lhe incomoda. É, não fosse por isso, ela ainda estaria esquadrinhando nossos sonhos loucos e salpicando déjà vu a torto e a direito. Mas ela vem. Abre-se, pois, espaço para os disparos e disparates do coração, e a alma torce clemente por flechas certeiras ou perfumes fatais. De fato, esse é o sonho da alma e da rosa, esta que pensa que já viveu isso antes, mas já duvida se foi só artimanha do infinito. Como se fizesse diferença... Bem me quer, mal me quer. De certa forma, tudo dependeu da primeira pétala. Então tudo é horário alternativo à pré-estreia? Que seja. A história é nova, a rosa é nova, a dor é outra. Porque nessa lenda de metáforas botânico-cardíacas o coágulo não existe. Bem, a não ser que aquele botão da roseira seja a rosa cativa do Pequeno Príncipe, talvez seja melhor buscar nos buquês da vida os espinhos mais doces, ou os mais amargos. Ou esquecê-los para sempre e esperar, quando retornarem, que estejam nas mãos da rosa preferida. Rosa de branco, num tapete de vermelhas rosas. “Sim, eu aceito!”

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