A mudança chegou disfarçada em forma de revelação. É que
como se o tempo estivesse me revelando que o novo, o diferente é o que agora me
constrói. A mudança não se fez perceber. Chegou sem avisar, e quando percebi já
estava sendo apresentada ao que de mim se tornou passado. Agora me vejo em uma tarefa. Preciso decidir
o que fica e o que deixo partir. Tudo ainda permanece intocável, mas meu
rearranjo me exige abandonar ou realocar algumas coisas de lugar. É hora de
trocar as vestes do antigo para torná-lo novo, ou apenas guardar com ternura o
que ainda merece permanecer como uma lembrança. E você, onde vai
ficar? Vai se perpetuar como passado? Vai se readequar ao novo? Ou apenas se vai?
Não vou decidir. Deixo sem definições nítidas o limite entre presente e
ausente; serás livre para transitar. Tu e todo o resto escolhem onde querem
habitar. Carrego comigo somente o que já está vestido de lembrança e o que já tem
ternura em seus traços. O resto que decida de que forma quer ser carregado, se
ao menos quer. A existência definirá. Só tenho pressa, e será definitivo.
Uma hora serás trancafiado na prateleira em que mais se acomodou, dando espaço
aos novos livros que chegam. E chegam em branco, com histórias a serem escritas
por mim. Eis o novo, a mudança, a revelação. O que era presente já não é mais.
Sou agora o que planejava ser, e o que era... esse não foi deixado pra trás.
Esse sutilmente se tornou outro, se reconfigurou. Novos livros chegam; Já vêm com
capa, título, introdução. Mas já começo a escrever as futuras edições, e deixo sem peso o que não quiser vir comigo.
Fique. O novo é belo, me faz trocar o medo do desconhecido por curiosidade. Que
venham os frutos futuros; transforme as mágoas em águas passadas. Se esqueça da história que não mais lhe
agrada, rasgue a página que ainda lhe tem valor. Grife, sublinhe, recorte. Novas páginas em branco aguardam, e aguardam
o que só você pode preencher. Seu conteúdo, seu novo. Mudança que define a
permanência – o que permanecerá em minhas novas prateleiras. O que é bom, que
fique. O que não é, que vá. O novo chega: Seja bem vindo. Seja mal passado.
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