Meu-não-meu bem.

É duro admitir a falha quando dar seu melhor é ainda insuficiente. Difícil aceitar que seu próprio esforço não lhe bastou. Cruel. Meu próprio esforço não basta para meu próprio bem. Deveria bastar. Meu bem estar não me pertence, não realizo minha posse. Minha posse não me pertence, não é minha. É quando percebo que talvez exista uma força maior que nos interliga e nos torna dependentes de diversos outros “eus” para realizar nosso self. Outros eus que também não são meus, mas ainda assim interferem no meu-não-meu bem. Ou mesmo essa rede de conexões seja criada por mim, e aí, a crueldade fica por minha conta. Sim, por minha conta. Por deixar que expectativas externas sejam internalizadas por mim, tornando-me um protótipo de realizações. Pseudo-eu; Pseudo-você. Não completo nem o que criei e nem o que absorvi de sua criação sobre mim. Será mesmo necessária tal ritualização da busca pelo que nem mesmo perdi? Não perdi meus anseios, eles estão aqui. São o meu bem. Mas insisto em buscar a realização que está fora de alcance, distante do domínio do meu. Distante do domínio do bem. Meu bem se desfigura. Meu-não-meu bem.  Seu-não-meu bem...mal. Pare. Talvez não seja necessário ligar-se a todos esses eus exteriores. Apenas aos que te devolvem a posse do bem. Deixemos de aceitar a pseudo-existência, pseudo-realização. Abrir mão da posse do eu é pseudônimo de felicidade, não a é realmente. Por isso, talvez seja hora de manter o elo com quem te demonstre posse de alguma forma. Seja como devoção, oração, coração. Não entregue a posse do seu-não-seu bem à quem não te pertence, à quem te reafirma a ausência do “seu”. Passe a possuir ao invés de doar-se. Dominarei o “meu”. Só me permitirei interiorizar o que de alguma forma me ajudar a exteriorizar meus anseios. Paradoxal. Talvez seja realmente necessário incorporar alguns eus, manter os elos. Alguns. Os essenciais, essência(is). O resto, que passe a fazer parte do que não possuo. Meu-não-meu seu. Seu não mais meu.

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