Missão

Apreendi-me em ti. Aprendi a mentir. A prender-te em vista minha, investi na desmemória e caí numa retórica revoltada, revirante, reciclada. Uma encíclica de inverdades outrora autênticas. Agora jaz faísca abrasada de sentimentos. Isca desabraçada, em ruínas de rapinas de adormecidas adrenalinas. Hoje vãs. Vândalos dos acasos e descasos da minha ex-vida. Porque em vida as fagulhas são vaga-lumes, num paraquedas que não ia abrir, e não abriu. No chão, somem. Subtraem do fogo estrelas cadentes em chama. Traem a fé no infinito. E se multiplica em vazios a escuridão, que nos cura os olhos. Escuros olhos, claros olhos, caros olhos. Repara olhares em vírgulas, pisca a cada frase e morre em cada ponto. E esse manto tem só letras. Sem sinais. E mais, falta-me o orvalho. Ou que o valha. Que aspirja seu suor sobre os pirilampos e os abençoe. Sofreram minha ira e viraram pó. Só. E eu inda vivo, na berlinda aqui. Um tanto quanto pranto meu, diria. Acalanto fino do destino, orgulhoso do dever cumprido. Do espanto comprido, no entanto, contido. Fiel vigia de todo momento. De todo futuro isento de chance. O além além do alcance. Frustro-me, e custo a me perdoar. A ter do ar pena e inveja. Veja, lá se voa e se venta. Aqui se senta, e mal se vê. Fere. Fura a pura sensação de nada. De estrelas letradas em epopeia na noite. Em baladas por alguém. Enquanto ninguéns sobram cá. Cabe-nos nessa esquina azul? É, só tu. Soturna. Noturna. Eu não, durmo. Urgem sonos. Ponho sonhos na lista. Em dádivas esperadas que me são o não-você. É fogo.

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