Eu, lírico

E que vida é essa que vivo e me leio e me livro d’escrever como é você? Que alma é essa de que sinto tanto muita falta falar contigo? Que dia é esse que só se adia do hoje e invadia meus ontens perdido no amanhã de sempre? Que sonho é esse que não sabe mais me sonhar e que some de vista e a vista sem prazo pra voltar a parcelar meu real e onírico? Que silêncio é esse que vem barulhar-me instigando melodiosos sussurros abafados? 

É porque tem dia que o dia acorda parcialmente nublado e a gente acaba por se nublar também. Aí a alma aproveita a rima e decide dublar nosso sentimento. Então lirifica desabafos e torna tudo melancolia em versos alexandrinos, tentando dar-lhe valor que não há. E tudo faz sentido por alguns minutos. Até que a epifania que todo mundo guarda no bolso de algum casaco perdido no guarda-roupa resolve aparecer. E eis que começa a filtrar o que realmente faz sentido. E tudo é água. Tudo se esvai, se vai, cai. Perde o sentido querer achar sentido na vida. Esse dissabor quase metafísico de deixar se desentender de tudo dá uma dor funda. O vento esquenta, o sol não sai e a lua míngua, míngua, míngua. E o sono vem cedo, antes de ser hora de querer sonhar. E os sonhos assim nos abandonam e deixam o sono nos dormir a noite inteira. Num mero stand-by do mundo mesmo ele de sempre. Até que a gente tropece em alegrias amanhã de manhã na rua e se esqueça de tudo isso. E tudo desfaça de fazer sentido e volte à vida ávida dádiva vívida dúvida de todo dia, que os sonhos virão disfarçados de realidade, e vice-versa, quando seu olhar de novo te sorrir sem você nem lembrar.

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