Degradê

É um querer eterno em entender. O interno e o externo que são diferentes, que se escondem, se mascaram, se escancaram, que é meio inferno. Que é meio céu. Meio céu no por do sol, que não sei a cor que nele vejo. Parece azul amarelado meio vermelho ou rosa. E mergulhar no mundo é meio isso mesmo. É meio duvidar de ter dúvidas, acreditar em ser tão cético, descrer em desvidas onde não há nosso caos. Caos: nossas ocas em pedacinhos misturados. Nossas casas. Nossos dias. Intrínsecos. Vivíveis. Convivíveis. Cotidianos.

Mas bem que podia ser um cais. Teria lá um barquinho amarrado descansando. E outro se equilibrando na linha do horizonte. Meio aqui, meio lá. Meio a velejar, meio a dissolver no mar. Meio cá, meio ali. Meio a sumir de vista porque o caos faz mais barulho e barulho é efeito sonoro de vida. É defeito sonoro dos impossíveis calados que sonham sem precisar dormir. Que sorriem sonhando, que sentem que sonham sorrindo e chorando, que sofrem porque sonham e não sorriem, que somem quando choram e não sonham, que sonham quando cansam de chorar. E acordam pra vida sem se lembrar do que choraram de noite. Aí sorriem quando podem e também quando pedem. Aí também choram. Quando podem e também quando impedem. Aí sonham quando sonham com o barquinho quase caindo pro além do horizonte. Como se ali fosse uma cachoeira, uma fronteira, uma laranjeira sob a qual tudo é sombra. Engraçado. Sempre parece que há um fim. Mas não. Tudo vai eternamente em voltas. É esse mundo que em volta da gente tem cara de mau, mas que só quer sorrir junto com a gente. Quer que a gente vá no barquinho até dar pra ver que não tem nada a ver. Ver que tudo está num só, nesse trem que a gente chama de vida.

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