Poesia de não-gente

Há quandos em que é preferível achar poema só em pássaro, água e céu. Alivia a agonia, despeja os cacos que rasgam no fundo, e a gente consegue dormir. Machuca menos que rimar de dentro. Talvez por isso Deus tenha desenhado bonito até mesmo o que não é gente.

As nuvens – e a ausência delas -, as árvores – e a inquietude proibida delas –, e as estrelas – e a distância-castigo delas, todas sabem dançar quando a música vai bem. Mas talvez ao longo dos anos, ao longo das lágrimas em que permaneceram quietas, tenham aprendido a sorrir o sorriso de emergência. O que arqueia em abraço, dá-nos um laço e distrai.

Sejam as serras que buscam em vão nos esconder os horizontes, ou os assobios-crianças dos passarinhos mais desafinados, nada parece acaso. Talvez só faltasse que as palavras não-tão-felizes-assim fossem proibidas de guardar beleza – ou ao menos taxadas por isso -, pra que os tristes desabafos também não pudessem virar poesia. Talvez des-doesse menos escrever sobre chorar, e sorrir de dentro se tornasse atalho. Ainda que a felicidade nunca me tenha deixado de ser a primeira opção.

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