Intermitente

Pra não nos acostumar com o lugar beato de vítima, tenho a impressão de que a tristeza, a funda, a chorada, quando nos casos brandos, ousa por vezes se sacrificar. Abstém-se por certo tempo, refaz-nos - se não felizes, ao menos indiferentes, esquecidos de chorar -, e se põe guardada, esquerda, escondida. Cochila, triunfante, sobre os nossos próprios travesseiros. E até nos recorda de que ainda está aqui. Alfinete na barra da calça que cutuca às vezes. Mosquito companheiro que barulha eventualmente perto do ouvido. E se o dia e a noite acabam, se se sente a iminência da insônia, existe-te sempre a possibilidade de acordar uma ou outra. Vestir felicidade e se acostumar, de novo, com sorrir. Ou mastigar a sombria dolorida por mais uns pares de infinitos. Em todo caso, as duas acabam acordando. A diferença é qual vai tomar café conosco e qual vai precisar correr atrás, em necessária perseguição. Sem dúvida nenhuma, prefiro fugir da tristeza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário