O dia depois

Tem hora que exigimos palavras não por anseio de publicitar. É simplesmente pelo crime de enganar a própria alma. Contar a ela histórias bonitas e difíceis de entender. Encher o enredo de castelos e fantasias, para ver se ela se acalma. Se guarda em conforto o coração, por um tempo que dura um tanto que nunca se sabe.

Nascemos com o dom de acreditar. E, quando agonia, todo mundo acredita. Acredita no de repente. Acredita que exista o que em que a gente não acredita. E, por mais que me pareça a agonia um corpo carente de abraço, seu olhar me só envenena. Sufoca de jeito que o coração fica boquiaberto, calado, dopado. Genuinamente inválido. Certo de que só o incerto não será de todo inútil.

É sensação de mergulho. Aquele som de quase-silêncio, de barulho desgastando, de desespero afônico por fazer-se voz sob a superfície total. Talvez eu devesse agradecer pelas agonias não-sub-aquáticas, que é ao menos menos pior, imagino. Ou desejá-las, pra me guardar n’água quando respirar pesar demais. Pensando bem, nunca vi um peixe chorar.

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