Pisca. Pisca. Acende. Apaga. Apega.

Aquele foi o happy hour mais feliz do ano, pelo menos para Antônio. Do cantinho da sala, bem ao lado da árvore, já havia suspirado vinte e cinco vezes. Mal podia esperar. Viu cada um dos colegas trocar presentes, abraços e elogios – uns sinceros, outros nem tanto. Nas mãos, trazia um presentinho cuidadosamente embrulhado, enrolado em fita. Lembrou do dia em que havia tirado aquele papelzinho - até então, seu melhor presente de natal. Antes de sortear, fechou os olhos com vontade, e pediu em silêncio. Enfim, uma felicidade que tem nome.

Vinte e seis. Mas não chega nunca, meu Deus! A sala agora já era pequena demais. Sorrisos demais. Aplausos demais. Queria pular essa parte. Concentrou-se na árvore. Pisca. Pisca. Acende. Apaga. Apega. 

E ficou nessa, deslumbrado, até que - silêncio. Abre parênteses.

O presente na mão era a denúncia: Só sobrara ela, só faltava ele. O que viria a seguir, todos já sabiam, menos Antônio. Deu um passo à frente, e parou. Era ela bem ali pertinho, com olhar de vou-eu-primeiro-ou-vai-você? Fugiram-lhe as palavras da fala já ensaiada. Não soube o que fazer, sentiu-se desconcertado, como se aquele pisca-pisca estivesse bem ali, no seu estômago. Ela riu do embraço. Adiantou-se e deu-lhe logo um abraço. Para ela, durou menos que um instante, para ele, a eternidade de um encanto. 

Desculpemos o nosso amigo - Pra quem é admirador secreto, papel de amigo oculto é estreia. Trocaram os presentes e cada um foi para o seu canto. Fecha parênteses.

É, tem coisa que só acontece no Natal.

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