Paralelo

Ela vivia alguns passos no futuro dele. Sentia que ela já sabia o ponto certo para se lhe estar. O lugar par dos seus pensamentos escolhidos, dos gostos escapados e dos comentários dizidos. Parecia que nela as aspas eram o melhor jeito de guardar suas pedras preciosas. Tudo o que ela cantava vinha minimamente perfeitamente doce. E tudo tinha um pedaço de autobiográfico dele. Um caco de espelho, um rabisco impossivelmente gêmeo. Paralelo. Era companhia para ele e também parecia para ela. De longe, dançavam doidos da distância muita. E aí conversar prendia. Desconversar rendia. E o dia dos dois os costurava numa renda devagar. Rodava a renda-ciranda e girando acabava criando um apetite adolescente de a querer pra sempre. Pequeno ou grande, não importava, não tinham pressa. ele tinha certeza de que o sempre sem pressa haveria de durar muito mais. Não ousavam passar a caneta aquele desenho tão lindo que desenhavam a lápis. Ainda não. O que era preciso pra que eles dormissem bem já muito brilhava nos olhos cúmplices dos dois. Se deixavam crer que flutuavam à escolha dos ventos e dos frios, e que as estrelas cuidavam de trançar os caminhos. Vez ou outra, os dois se escondiam no escuro entre uma constelação e outra. as estrelas desconfiavam, mas deixavam. Às vezes eram só trilha perdida no céu, às vezes eram abajures-voadores pras páginas dos dois aqui embaixo. Eles não sabiam que as estrelas eram românticas também.

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