Ausente de mim, presente de fim.

Ausentar-me torna presente um futuro mal passado. Cru. Viver ausente do si mesmo faz com que não me sinta preparada para o que está por ser degustado, esse futuro mal passado: meio cru, meio ainda presente. Futuro cru de maturidade, futuro que será um passado sempre presente de arrependimentos e vontades hipotéticas: e se?
Em ausências, me torno apenas leitora dessa compilação de roteiros que se cruzam em minhas páginas, rabiscando uma história sem minha letra, sem minha assinatura. Tomam-me em outras caligrafias que me aproximam do futuro incerto, ainda irreconhecível ao meu paladar. Mal passado. Eu ausente, ­sem estar pronta para tecer meu caderno com as letras trêmulas de quem percorre escrevendo apesar do que pesa. A letra estranha e bonita da história que não sofreu alterações nem rabiscos de um autor que se ausentou e presencia o prosseguir mecânico. Mecânico, estático. De um eu que não aumentou sua bagagem, mas sim deixou peças pelo caminho, diminuindo o que achava pesado pra levar. Não evoluiu. Pobre, pesou-se mais. Pesou-se do vazio, que permeia seus três tempos crus. Pesou-se do passado que carrega como manto, não lhe deixando virar a página, pois as linhas do presente contam as mesmas histórias já lidas, e o futuro é apenas a promessa de mais cópias. Futuro mal passado, cru. Cru como o corpo que segue vazio de alma: ausente. O corpo a ser preparado assim como o futuro insosso, para que possa ser degustado em minha caligrafia, no ponto certo de uma história sincera.
Ausentar-se não me isenta de problemas, medos, sacrifícios ou arrependimentos. Só me isenta e ausenta de mim, deixando espaço para preencher-me por cifras não musicáveis. Ausentar-me presencia o não meu e me serve no mesmo prato o que aceito e o que nego, desenhando um caminho indigesto.
Saia de trás dessa fonte, pega essa caneta e escreve tua história em letras trêmulas, preenchendo páginas com um passado em paz com o que já foi escrito, um presente em rimas e a certeza de um futuro desfecho surpreendente. Inspira tuas letras e expira a melodia escrita no pulsar do alguém legítimo, presente, caligrafando parágrafos carimbados de si.
Ausência que faz presente o silêncio do vazio do eu. Oco de mim, abundante em casca, seco de polpa. Não mais. Ausência que trazia presente um futuro cru. Prepare-se em corpo e alma, presença e calma no ponto de uma história sincera. ­


Um comentário:

  1. "Saia de trás dessa fonte, pega essa caneta e escreve tua história em letras trêmulas, preenchendo páginas com um passado em paz com o que já foi escrito, um presente em rimas e a certeza de um futuro desfecho surpreendente. Inspira tuas letras e expira a melodia escrita no pulsar do alguém legítimo, presente, caligrafando parágrafos carimbados de si."

    Espetacular :)

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