A vida é bonita, relaxa

Eu quero ver que a tal da vida é simples. Que fica meio complicada só quando a gente se preocupa demais em querer dar risada toda hora, todo instante, em vez de ficar contente pela dor que não tem. Porque os sorrisos, eles vêm. Te digo, vêm sim. São tão brincalhões que tem vez que se escondem, gostam de fazer surpresas, mas acabam voltando. Não por piedade, é por saudade mesmo, de quem os sorri. De alguém que os vive. Que a vida, ah, a vida é bonita, relaxa.

Tem hora, claro, que nada parece bonito, pelo contrário: dá vontade de apagar a luz do mundo e deixar tudo no breu enquanto eu sumo pra outro canto. Mas aí, quando ficar cansativo, faz o seguinte: rima, canta, grita, corre, pula, beija, dança, voa, sobe, desce, nada, olha, sente. Deita, dorme, sonha, e faz de conta que é só isso. Imagina que, a partir de agora, tudo o que é problema na vida deixa de ser problema nosso. Imagina que agora eles vivem só, por si só. Dão seu próprio jeito de se resolverem. Ou de se esconderem. Pra que a gente viva o que tem que ser vivido. 

A gente vai acabar vendo que muito do que parece ser problema na verdade parece que é medo. Só. Medo que a gente chama de problema, pra forçar uma condição adversa pra nos impedir de viver de um jeito que a gente acha que deve ser melhor. Por isso que nos sonhos a gente fica tão feliz às vezes sem saber como. É que fica tudo meio que na beirada, no quase, no limite do ser feliz a todo custo ou deixar de lado o perigoso. Aí a gente dorme, desliga essa barreira anti-vida e os sonhos nos abrem os frascos de felicidade. E derramam, sorrindo. 

E quando passa o aperitivo, é susto. A gente acorda decepcionado por saber o quão bom dava pra ser. Se a gente falasse mais, tentasse, acreditasse, ousasse, fizesse em vida todos esses subjuntivos clichês de epitáfio, talvez a felicidade-amostra virasse pão nosso de cada dia, sorriso de degustar mais vezes. Se a gente fosse como quando o medo some, dava pra deixar a tristeza intraduzível e ininterpretável, só à espera da alegria vir matar a saudade. 

Se demorasse, mais sorrível seria quando chegasse. Ou então, como surpresa, ela chegaria rapidinho, como quando vem você falando doce sem a gente nem esperar.

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