A sombra de dias que me assombram as noites. Assombra por
lembrar-me que já estive guardada pela nuvem que hoje me persegue em
tempestade, chovendo em meu guarda-chuva gotas de um passado seco de boas
memórias. Passado seco, mas que me molha os olhos e a paz de prosseguir.
Desaguando tento escoar o que o assombro em nuvem trouxe até mim, molhando meus
dias num dilúvio de coisas que gostaria de ter enterrado na gênese dessa
lágrima.
Sigo protegida por um frágil guarda-chuva que me guarda do
que gostaria ter doado ao vento. Me guarda das sombras do eu engavetado que
evapora-se e materializa a gota que transborda meus olhos. Me transformei em
parte desse ciclo de águas assombradas de um eu deixado pra trás. Deixei o eu,
mas a nuvem persiste em me fazer sombra. Deixa chover. Deixa chover o que me
molha do eu, hora de abandonar o velho guarda-chuva que agora vai guardar-me da
covardia. Deságue sobre mim o que deixei secar lá atrás. Deixa chover e molhar
o que eu fui, sou e serei, numa fusão que irá unificar meu mar.
Dos meus olhos agora sairão apenas as águas poluídas por
arrependimentos. O que ficar será legítimo e não mais desaguará. Deixa chover,
que o assombro dessa sombra de passado já secou, unificou o presente,
fortaleceu o futuro. Deixa chover, aqui dentro já é sol.
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