Enxaqueca

Hoje na campainha era a enxaqueca doendo desse inconstante gostinho meio agridoce de querer demais experimentar viver. É que tem hora que venta demais e dá vontade de correr. Tem hora que só sumo. Desapareço quinze ou vinte minutos dentro dos fones de ouvido. Nas canções calmas, ou nas mais gritadas. Nos versos que me encontraram um dia só pra me fazer chorar. E me afogo no travesseiro, ou voo recostado nele. Meu canto seguro. Tem uma melancolia fiel sempre desocupada pra mim. Tem dia que mais doce; em outros, tem gosto de bicarbonato. Tem dia também que me esqueço de acordar as alegrias depois do sono - viro perito de desagrados. Cato pedregulhos e os calço sem meia. E caminho mais longe. Até que canso e paro pra viver. Ver que também tem hora que é tudo tão fluido! É que nem andar de bicicleta na descida quando o céu tá lindo e o tempo tá fresco. É se esquecer de ponderar se a gente é feliz ou não. Não precisa nem pensar no que é. Acontece. Sorrir quando se olha no espelho ou quando se espelha num olhar ou quando só se olha pra um outro sorriso mesmo. Admirar o por do sol até nos dias em que Deus nem caprichou tanto. Sentir tanta paz que até a felicidade parece merecer poesia. Mas pensando bem, ela até que merecia, ao menos, não sei, uma ou duas rimas por dia.

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