Sonhos Baldios.

Encadernei algumas ideias, botei-as debaixo do braço e fui pra rua brincar de sonhar. Sai caminhando pelos quarteirões da vida e ancorei em uma rua distante. Nela encontrei morada e por lá releio minhas ideias. E permaneço a tentar libertá-las do papel. Algumas vivem alheias a mim, em escritas apagadas. Outras se personificaram e tomaram conta do eu, e hoje me constroem de forma a me moldar a todo instante. Sou agora construído por minhas construções que desconstroem o que me impede de evoluir. Assim, reinventando-me a todo instante aprendo que não é glória poder afirmar que jamais mudarei quem sou. Inverto a óptica. Sou quem mudarei. Desvios de rota nos abrem os olhos pra caminhos livres do peso do planejar. Afinal, estou brincando de sonhar.
Perdi a hora nesse desvio de rota que me trouxe até o presente e hoje o desvio é que me aponta a direção, mas, me permito ser guiada pelo incerto. Talvez o incerto seja o certo pra corrigir meu incorreto. Movida pelo que é sentido, busco menos tempo equacionando o que está cá dentro estacando e mais tempo permitindo só sentir. E nesse movimento de lutar contra o que está estacado aqui dentro, resolvi doar meu desacostume ao vento. Aprendi que sentir é acalento dos que não se guiam unicamente pela razão e veem razão em emoção. Agora busco o desacostume do sentir, fugir da rotina que generaliza e engessa as emoções. Estaca aqui. Esta cá. Estou cá seguindo. Seguindo sentindo o desvio de rota imperar caminhos que me modificam. Hoje, ao ver mudado meu reflexo nas frestas de espelho dos olhos alheios, percebo que brincar de sonhar me trouxe até a rua certa. E por elas sigo com as ideias encadernadas que se libertam a desencadernarem novos eus. Enquanto isso continuo a brincar de sonhar na rua distante dos medos, na esquina entre o fui e o serei, onde me permito diariamente amanhecer ideia, entardecer ação e anoitecer em sonho. Realizado ou idealizado, mesmo que não haja sucesso, houve tentativas. E nisso consiste meu sonho: sonhar. Sigo encadernando ideias, a me criar. Debaixo do braço, as ideias e a vontade formam o processo criativo do meu caminho. Fui pra rua brincar de sonhar. Fui pros sonhos brincar de viver. Fui pelo caminho brincar de sentir. Parei. Ancorei no sentir. Sigo sentindo, mudo seguindo, sinto mudando. Fui pra rua brincar de sonhar, volto pra casa antes do anoitecer.


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