Quando nada faz sentido

Alastra, se estraga, desmancha e desmanda essa ilusão que só hoje eu vi que é armadilha. O ideal, utópico e irreal foi feito pra não existir. E eu não percebia. Sensatez forjada, pra que me vale? Maturidade inócua e improvável, abstrata. Destrata quem tanto a venera. Sincera, era o que eu pensava que fosses. Mas de tão minha, haveria mesmo de ser mentira e errada. E de tão real que parecia, me assustei. As fendas, que eu achei que eram dois degraus pra quando eu escorregasse, de repente se abriram. Vieram me derrubar. E acabaram por me salvar desse amargo que é enxergar o quão absurdo tenho sido. Eu achava que meu caminho era reto, certo, coeso. Irretocável. Mas era só essa minha máscara, que me fazia outro pros outros. E essas minhas lentes, que tornavam outros os outros pra enganar a mim. E como ilusão que me era, que me erra, que quimera, caí na armadilha. A matilha de verdades me mordia e eu enfim ia largando o sorrir pra entender como nem tudo são flores. Eu distorcia os sabores, e tudo aprendi a gostar. Fel era doce aroma, azedo era doce amora e amargo era você amar. Meu mundo era uma linda receita, eu só não sabia o que ele iria me receitar. Me postava lá, inocente, gentil. Achando que eu sendo eu mesmo era o único jeito de viver. Pra variar, precisei do despertador atrasado pra me despertar, pra me espantar, desencantar. Hoje, tudo o que é cores primeiro me mostra os cinzas, antes que eu os esqueça. Antes que apareça essa triste coisa de sentir mais do que sentimos, de se deixar levar por palavra e sorriso. Sorrir todo mundo sabe, elogiar a gente acaba que aprende. E a verdade tem vez que sobe na ponta emersa do iceberg pra se dizer fiel e amiga. Pena que a autêntica verdade se esconde no fundo. Guarda-se tanto pra que só se abra a quem a mereça. E se custa a surgir quem merece, ela segue casta, perece até se desfazer com o sonhador que um dia decidiu cativá-la, mas que logo se foi, viu que genuíno na vida era só mesmo se iludir. E que mais certo ainda seria a desilusão. Por um lado, ele estava certo. Por outro, estava também. E hoje espero a lua com fome, pra me dar uma fatia de sono, que ela esconde iludida quando começa a se encher. Lua, me dá hoje um bom sonho, dorme comigo e não some, mas não queira, não queira crescer.

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