Frio

E nesse frio parece que as verdades sabem melhor se infiltrar. Elas então fluem por entre o ventinho gelado sem que nenhuma palavra precise escapar. Mas quando escapam, elas fogem da boca por aquelas fumacinhas brancas que costumam sair com nossos sopros e suspiros. E nem se se quisesse mentir, seria impossível. A mesma fumacinha delataria a mentira e o mentiroso. Mas a verdade é que não vale mesmo a pena. Quando nos apertamos trêmulos de frio, quando nos abraçamos rígidos de frio, quando nos escondemos cínicos do frio, a mentira é a contramão. E perde. As palavras são poucas, saltam só quando necessárias. Noite. Fria. E se procuram a sinceridade e a felicidade, já era o tempo dos permeios vãos. Palavras doces, quando bem ditas, são o eterno chocolate quente a quem as acolhe. O rosto está frio, avermelhado de frio, e o rubor da timidez ou some ou não se deixa ver. Não há olhos azuis ou castanhos sob o escuro gelo da noite, há só olhinhos espremidos num rosto congelado num corpo contorcido que busca achar seu lugar. Lugar entre as brisas que arrepiam e as estrelas que tentam do alto nos esquentar um pouquinho. E assim elas pulsam mais esforçadas, resistem, iluminam, encantam. O esquentar ou não é só ponto de vista. Mas se as próprias estrelas têm acreditado nisso por tanto tempo, talvez seja melhor acreditar também.

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